Versatilidade na Escalada


Matéria publicada originalmente no Jornal da Montanha, edição #6 (set e out/2011)
Por: Daniel Juliano Casas

Versatilidade na Escalada

Subir uma alta montanha ou um boulder, ao mesmo tempo em que parecem coisas muito distintas, possuem em sua essência muitas afinidades, pois fazem parte do mesmo esporte, embora sejam modalidades diferentes do Montanhismo.

O esporte que no início era um só, foi se dividindo em modalidades: boulder, esportiva, parede, alta montanha, etc. e esse fato fez com que os praticantes fossem se especializando cada vez mais na modalidade de sua preferência ou na que conseguiam atingir melhores resultados. O montanhismo dessa forma conseguiu atingir novos patamares de evolução, porém criou-se uma divisão.

Com o advento do “Free Climbing”, proposto por Güllich, Albert, entre outros no final da década de 70 e início dos anos 80, o limite do grau nas falésias foi ampliado. Na seqüência foi aplicado o mesmo conceito nas grandes paredes, como na Patagônia, no Himalaia, etc. Dessa maneira esses escaladores “todo terreno” elevaram o nível do esporte puxando o limite para muito além do imaginado e assim comprovaram que o esporte é um só, independente do desafio.

Atualmente é muito comum vermos escaladores “todo terreno” se destacando nas diversas modalidades do esporte. Obviamente é muito mais difícil mandar bem em todas as modalidades do que em apenas uma, da qual se é especialista. Por esse fato podem-se chamar esses praticantes de escaladores completos, que dominam várias facetas do montanhismo, mesmo aqueles que não fazem parte da elite mundial mas topam qualquer aventura.

Um escalador completo é aquele que é capaz de escalar em qualquer modalidade com desenvoltura. Que domina determinado grau de dificuldade em qualquer condição de técnica de escalada, em diferentes tipos de rocha e diferentes estilos. Por exemplo: O escalador deve dominar um 7.º grau num negativo com boas agarras ou em uma aderência, numa falésia ou numa grande parede com vento, dominar o grau portanto seria mandar o sétimo grau em qualquer circunstancia, técnica e estilo de escalada.

Não é de hoje que a forma como se sobe uma montanha se sobrepõe ao próprio feito, pode-se observar isso nas grandes ascensões no Himalaia em estilo alpino e sem oxigênio. O estilo mais puro, com menos suporte externo, sempre será o mais “justo” e de maior valor esportivo. Observam-se também, vias muito difíceis escaladas em natural em grandes paredes que antes eram feitas em artificial, ou ainda vias equipadas de forma esportiva com proteções fixas sendo escaladas em estilo tradicional. Esses fatos comprovam que o montanhismo e seus praticantes podem ser versáteis, no sentido de aproveitar o leque de opções que estão disponíveis.

Cada um joga a sua maneira de preferência, com total liberdade, mas sempre respeitando os princípios éticos que regem o esporte, estes que devem ser sempre revistos, pois evoluem assim como os equipamentos e técnicas.

Via Humildade no Ar 10a. Foto: Danielle Pinto

Daniel Juliano Casas: Praticante assíduo de montanhismo desde 1988. Faz parte do Corpo de Guias da Salamandra Escola de Montanha, sócio fundador da Associação Joinvilense de Montanhismo. 
Apoio: Hard Adventure, Fitness Online e Resseg .