Novos Caminhos

JORNAL DA MONTANHA - Ed 3 NOV 2010
COLUNA VIVER A MONTANHA: NOVOS CAMINHOS
Por Daniel Juliano Casas

             Há muito tempo, o ser humano vem percorrendo longos e difíceis caminhos em busca do desconhecido e consequentemente da aventura, pode-se dizer que é uma paixão antiga. Para montanhistas, essa busca atinge o ápice em uma nova escalada, seja ela uma nova montanha, trilha, face rochosa, ou ainda uma pequena parede ou boulder, o importante é ser  algo inédito, fazer o que ainda não foi feito.

            Na montanha, a conquista começa antes mesmo de se estar na base. Inicia-se no planejamento, na busca de informações, no fechar da mochila. Estando perto a olhar o desafio ao longe, imaginando a linha de ascensão e  entrar em seu domínio. Fazendo a aproximação pelo vale, a cada passo um pouco mais perto. Estando aos seus pés a organizar os equipamentos até o momento de ir lentamente tateando a linha escolhida, cada saliência e cada fenda. Se protegendo e avançando de metro em metro, até por fim estar no seu ponto culminante, completando as emoções e sensações da experiência.

            Existem duas maneiras de se abrir uma nova via, conquistando vindo de baixo ou equipando de cima, ambas as formas são aceitas na onquistando de baixo ou equipando de cima, ambas sva via. onhecido.
tmaioria das escolas de escalada, mas há uma grande diferença na aplicação dessas duas técnicas.

            Na montanha ou paredes com vias consideradas de estilo tradicional, deve-se abrir vindo exclusivamente de baixo. Equipar vindo de cima só é aceito se for um setor de vias esportivas em paredes pequenas. Nota-se então a diferença dos termos conquistar e equipar uma nova via.

            Existe uma corrente de pensamento que opta em substituir o “conquistar” por “primeira ascensão”, devido ao significado explícito da palavra conquista, onde o emprego da mesma parece subjugar a montanha. Esse termo é mais utilizado pelos escaladores esportivos, onde muitas vezes o equipador ou conquistador da via não é o mesmo que a encadena  pela primeira vez, ficando assim com o título de ter sido o primeiro, ou melhor, dizendo, ter feito à primeira ascensão. Porém o termo funciona também para novas linhas em montanhas e o mesmo é muito utilizado em outros paises.

            Outro fator interessante a ser levado em consideração, é o estilo utilizado na primeira ascensão. Nesse caso, “como” escalar passa a ser mais importante do que “qual” foi a escalada. Ou seja, a forma e os meios que foram empregados na conquista, como cordas fixas, expedições, se foi em solitário ou em quanto tempo foi realizada, definem  a escalada. É considerado o estilo mais arrojado, o que emprega menos meios de facilitações, o mais puro e mais justo com a montanha, como por exemplo, subir em solo integral ou sem cordas fixas, para as montanhas, ou a escalada à vista para boulders e vias esportivas. Uma nova via é também uma “obra de arte” a qual deve ser respeitada o estilo e a maneira como foi feita, onde não é permitido qualquer tipo de alteração ou modificação a não ser pelo próprio autor.

            Traçar novas rotas é uma atitude surpreendente e muito gratificante. Flertar com o desconhecido é apaixonante. Estar na ponta da corda, em busca da aventura, trabalhando as limitações e os desejos, onde os instintos afloram com mais clareza, e usar tudo isso em favor do desafio que lhe foi imposto é com certeza um excelente caminho para o auto conhecimento.

            Abrir uma via é também uma grande responsabilidade, exige além de experiência e conhecimento técnico, uma série de fatores como desprendimento, bom senso, disposição e acima de tudo respeito ao ambiente natural, que deve ser conservado ao máximo suas características originais. Outro fator a ser levado em consideração é a colocação das proteções fixas, que devem ser de qualidade e bem instaladas, evitando ao máximo seu exagero e nunca onde se pode utilizar proteções naturais ou móveis no caso de fendas e fissuras.

            A abertura de uma via pode ser uma conquista pessoal, porém é um legado para posteriormente poder ser usufruído por todos, e quem sabe, essa seja o verdadeiro motivo que move o Homem rumo ao desconhecido. São as vias de escalada que escrevem as linhas mais importantes da história do montanhismo. 

Daniel Juliano Casas é praticante assíduo de montanhismo desde 1988. Faz parte do Corpo de Guias da Salamandra Montanhismo e Escalada, sócio fundador da Associação Joinvilense de Montanhismo. Tem como apoio as marcas Conquista Equipamentos para Montanhismo, Resseg e To The X.