27 de outubro de 2014

ESTILO AVENTURA - MORRO DA CRUZ

Alecsandro Urbano chegando na P3 da via Penélope (5. 7b E3)
Projeto Guiando Todas

No começo da temporada Urbano veio me dizer que estava com a intenção de guiar todas as vias do Morro da Cruz, me mostrou um croqui rascunhado com vias e estratégias. 
Fiquei feliz em saber de seu projeto pessoal e ofereci minha ajuda no que fosse possível.
Escalar todas as vias do morro, com certeza vai lhe preparar pra grandes montanhas. 
Sou grato por seguir na vanguarda e servir de referencia a uma nova geração de Montanhistas dispostos a empurrar os limites!!!!

Para quem nunca ouviu falar do Morro da Cruz, guiar as 13 vias pode parecer simples, porém quem conhece, sabe a evolução, o comprometimento, o desenvolvimento físico e principalmente mental que o escalador deve ter.

Para os escaladores da região, a face leste do morro é uma excelente escola de ESCALADA DE AVENTURA. 
São 18 opções entre vias e variantes abertas no estilo TRADICIONAL, vindo de baixo pra cima ao longo de 24 anos de conquistas.

Vista geral da parede do Morro da Cruz
Pelo fato de ser uma escalada que exige certo COMPROMETIMENTO, não é um setor popular, apesar de sempre ser bem frequentado e nunca ter ficado abandonado. 
Em todos esses anos, muitos tiveram o privilégio de aprender nessa parede, sendo repetindo ou abrindo novas vias, fazendo manutenção ou curtindo o visual do cume após um bom dia de escalada.
O morro com certeza, foi e segue sendo um "campo de provas" para gerações de escaladores locais.

Lola na fenda da via Morceguinho (3. 5sup  E2)


Quem inaugurou a parede foi Bito Meyer e cia. com as vias Sambaki (4. 5sup E3) e Vó Laudi (5. 6sup E3) em 1990, e desde então o estilo aplicado no morro foi baseado nesse padrão. Ou seja, vias de aventura, modernas, utilizando equipamento móvel quando possível e sempre abertas vindo de baixo. A maioria no padrão de exposição E3. 

Reginaldo Carvalho tocando pra cima na Vó Laudi (5. 6sup E3)


Gavião Tesoura, vem lá da Amazônia pra curtir a primavera no morro.
Rafael dominando o teto da Overdose.

Urbano concluiu seu projeto a alguns dias atrás de forma impecável.
Foram aproximadamente 32 cordadas de aventura.

Vejam abaixo seu relato sobre o projeto.

Urbano na cadena da terceira cordada da Penélope 7b técnico.

Poder escalar no Morro da Cruz é desfrutar do melhor estilo escalada de aventura da região. 

Desde quando comecei a dar os primeiros passos em vias tradicionais, sempre tive a curiosidade de saber como seria a adrenalina ao me aventurar nas linhas deste morro, que até então, me pareciam assustadoras. 

P2 da via Dá ou Desce.

Durante um ano procurei escalar diversas vias no Morro da Palha, mas sempre imaginando como reagiria diante da exposição, proteções em móvel e ancoragens naturais que a montanha proporciona. 
Após passar a fase de aprendizado, iniciei as primeiras guiadas na Cruz escalando as vias com menor grau de dificuldade (Morceguinhos e Me Chama que eu vou) para assim poder me adaptar ao estilo e aprender aos poucos como se escalava no local.



Com o passar do tempo descobri que as vias que tanto foram tratadas como “mitos” por outros escaladores, na verdade são lindas linhas para serem repetidas, com características diversas, que proporcionam muito aprendizado das técnicas de escalada em grandes paredes. Uma por uma as vias foram sendo repetidas e os “mitos” foram sendo desmistificados.

O projeto de escalar todas as vias do morro da cruz foi iniciado no começo da temporada de 2014, quando decidi me dedicar exclusivamente para as vias tradicionais. Por meio de um croqui impresso, fiz uma relação das cordadas que eu já havia escalado Guiando e de Participante, podendo assim organizar a estratégia.

Durante o ano inteiro o projeto trouxe diversos pontos positivos para a escalada no morro. Muitos escaladores contribuíram para sua conclusão, ajudando na regrampeação, limpeza e manutenção de vias, acessos e bases. Destas, posso citar quatro vias (Sambaki, Penélope, Macarrão com Farinha e Vídia Dura) nas quais trabalhamos, eu e Daniel J. Casas, para reativá-las e assim poder concluir o projeto.

P3 da via Macarrão com Farinha e baia Babitonga ao fundo

Tive dois momentos, entre os mais emocionantes, que passei durante essa experiência. Primeiro, a entrada à vista nas ultimas cordadas da via Penélope Charmosa (5º 7b E3) em uma bela noite de lua cheia com o escalador Rafael Alquieri, que também ficou na parceria durante todo o tempo. E a queda que sofri ao guiar a ultima cordada da via Vídia Dura (6º 8a E3), que veio a me fortalecer ainda mais e me trouxe grandes aprendizados.

Via Penélope Charmosa.

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão deste projeto. Deixo aqui o meu convite para quem quiser conhecer o Morro da Cruz. 
Aproveitem a escalada, o Estilo Tradicional do morro, respeite a natureza,  conquistadores e todos aqueles que escalam por amor e não por opção.

MC KDNA amarradão.

Hoje a parede está 100% regrampeada. Todas as vias, bases e acessos limpos. Trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos pela COMUNIDADE LOCAL DE ESCALADORES em parceria com a iniciativa privada e associação local.

Espero sinceramente que esse exemplo de dedicação e visão, se perpetue entre a comunidade e expanda-se por gerações disposta a aprender, respeitar e empurrar os limites. 

Rafael Alchieri mandando "a vista" a Overdose de Lucidez (5. E2)






Tire os pés do chão!!!